Se fizermos uma pesquisa sobre estresse, é provável que praticamente 100% das pessoas considerem-se estressadas. Nos tempos de hoje, somos expostos a estímulos quase durante o dia inteiro. Pelo celular, por exemplo, ficamos conectados a um fluxo interminável: e-mails, mensagens, notícias, fotos, redes sociais, movimentações bancárias, compras e vendas de produtos, entre muitas outras possibilidades. Poucas horas sem olhar o celular garantem facilmente uma bagagem de informações que demandará grande esforço para ser atualizada.
A partir de tantas facilidades que nos economizam tempo – pagar uma conta pelo celular pode evitar algumas horas nas filas dos bancos – passamos a ter a cobrança de fazer algo produtivo com esse ganho. Ou seja, é preciso render durante esse tempo que agora nos sobra, com atividades que podemos efetuar mais rapidamente devido aos avanços do mundo.
Esta é uma das cenas mais comuns na vida das pessoas adultas. No entanto, é comum na vida das crianças também, apesar de muitos pais e familiares não reconhecerem esta situação. Na revista Crescer, saiu uma matéria em 28/10/2015 chamada “Estresse infantil: pais não percebem que os filhos estão estressados”, de Vanessa Lima, na qual é citado um estudo onde 432 pais foram questionados sobre seu próprio estresse e sobre o estresse do seu filho. A conclusão dos especialistas foi de que os adultos classificam sua condição como tensa (com notas de 1 a 10, um em cada cinco adultos deu nota 10 para o seu estresse, e 57% deu nota maior que 7), porém ao se tratar dos filhos, a situação foi outra: 60% dos pais deram nota abaixo de 4. Apesar disso, o estudo elucidou que 72% das crianças apresentava sinais que podem ser associado ao estresse, por exemplo, dor de cabeça, dor de barriga, choro e reclamações excessivas.
“’A infância está mais estressante hoje do que era há algumas décadas’, diz Carmen Alcântara, psicóloga clínica de São Paulo (SP). Para ela, a sociedade tem colocado muitas expectativas de sucesso econômico, profissional e pessoal nas crianças, de forma cada vez mais precoce. ‘As agendas de cursos extracurriculares de uma criança de cinco anos, hoje, compete com as de grandes executivos. Sobra pouco tempo para brincar livremente, descansar, conectar-se a natureza’, analisa a psicóloga. Há ainda os estímulos eletrônicos e da mídia, que expõem as crianças muito cedo à violência, à competitividade, ao consumo e à sexualização.”
Assim como os adultos, as crianças são apresentadas a uma sequência estimulante sem fim, com agendas rígidas e cobranças severas. A exigência de ser criança vai muito além do que ir à escola e brincar. Contudo, os pais encontram-se desatentos em relação ao estresse infantil, segundo a psicóloga Carmen Alcântara, porque talvez ainda exista a crença de que a infância é uma fase da vida de poucas responsabilidades e muitas brincadeiras, e, por consequência, apenas os adultos são passíveis de sofrer com o estresse. Além disso, é esperado da criança uma verbalização sobre, por exemplo, a dor de barriga que vem sentindo constantemente, associando-a com o estresse. Porém, essa relação dificilmente é feita pela criança.
Desse modo, é preciso estar atento aos sinais psicológicos e físicos dos pequenos. É importante que os pais deixem espaço para “apenas” ser criança, além de valorizar e dar importância a todas as questões as quais os filhos atravessam. Ao reconhecer alguma modificação no comportamento da criança, é importante também procurar ajuda de um profissional especializado, a fim de melhor percorrerem o caminho para o bem-estar.
Se você tem alguma dúvida, comentário, ou sugestão, envie um e-mail para a gente: redepsinit@gmail.com.
Reportagem e imagem: http://revistacrescer.globo.com/Criancas/Comportamento/noticia/2015/09/criancas-estao-estressadas-e-muitos-pais-nao-estao-percebendo.html
Priscylla Costa
Psicóloga – Psicanalista